Conferência que começa em 13 de junho decidirá, entre outros temas, o formato e o papel central de uma entidade global dedicada ao meio ambiente
Em junho de 1992, o Rio de Janeiro voltou a ser, por decreto presidencial, a capital do Brasil. Protegidos por tanques e 15 mil homens do Exército no caminho entre o Aeroporto Internacional do Galeão e a zona sul, 108 chefes de estado desembarcaram na cidade para discutir os rumos do planeta, em busca de uma sociedade mais justa e sustentável. O termo “sustentável”, aliás, tornou-se conhecido ali,na ECO-92, a histórica conferência que consolidou o ativismo ambiental e, progressivamente, levou às conversas das pessoas comuns conceitos como biodiversidade e mudanças climáticas. Foram 12 dias de discussões que vararam noites – a ponto de deixar em carne viva os cotovelos do então embaixador do Brasil em Washington, Rubens Ricupero -, e também de uma maratona de manifestações de protesto, shows de música e apresentações de teatro que fizeram o lado festivo da conferência. Entre os ilustres visitantes estava George Bush, em plena campanha pela reeleição à presidência dos Estados Unidos. Bush pai acabou derrotado pelo democrata Bill Clinton, mas, se os participantes da Eco 92 pudessem votar a derrota seria por diferença muito maior. A figura mais hostilizada da conferência só foi festejada de alguma forma porque fez aniversário – 78 anos – e ganhou um bolinho de parabéns para você oferecido pelo presidente Fernando Collor, que estava no epicentro das denúncias que o enxotariam de Brasília três meses depois daquele encontro.
Vinte anos depois de sua estreia como cidade-marca de uma grande cúpula internacional, o Rio, agora sem tanques e com parte das favelas ocupadas por policiais militares, volta a ser, a partir de 13 de junho, a capital mundial do meio ambiente. Cientistas, ativistas ambientais e chefes de estado tentarão, ao longo de 11 dias na cidade, apontar o caminho e estabelecer compromissos de governos e empresas para as próximas décadas, conciliando os anseios de uma classe média global emergente e a necessidade de frear o ritmo com que os 7 bilhões de humanos consomem os recursos do planeta – em 1992 éramos 5 bilhões e meio. Bill Clinton é um dos convidados de honra aguardados, ao lado da chanceler alemã Angela Merkel, do governador-ator Arnold Schwarzeneger, do cantor Bono Vox, líder do U2, do cineasta James Cameron, de Avatar, e de 50 mil participantes inscritos para tentar, de novo, mudar o mundo.
A visão brasileira – O governo brasileiro vai patrocinar um evento de quatro dias no Riocentro, com transmissão ao vivo via Internet, para debater os temas que considera prioritários nesta seara: segurança alimentar e agricultura sustentável, energia sustentável para todos, economia do desenvolvimento sustentável, redução do risco de desastres naturais, cidades sustentáveis, acesso eficiente a água, oceanos, empregos verdes, trabalho decente e inclusão social.
A Rio+20 certamente não alcançará o brilho de sua antecessora, a Eco-92, considerada um marco histórico por colocar a mudança do clima e a defesa da biodiversidade na agenda política global. Mas certamente terá mais impacto que a intermediária Cúpula Mundial pelo Desenvolvimento Sustentável, realizada em 2002 na cidade de Johanesburgo. Esta, basicamente, reviu os acordos de 1992 e recomendou um plano de implementação cujo mérito foi fortalecer as parcerias publico-privadas e, com isso, reforçar indiretamente o movimento pela responsabilidade social das empresas.
Um dos acontecimentos mais importante do mundo será realizado no dia 13 de junho no Riocentro, pessoas do mundo inteiro estarão discutindo e debatendo aspectos econômicos, sociais, além dos ambientais vale salientar que a Eco 92 tambem sera realizada este ano no Rio De janeiro que discutira temas abrangentes no mundo todo como :
Missão – A Eco-92 foi um marco. A partir daquele encontro, pela primeira vez os maiores líderes mundiais reconheceram o pleito dos países em desenvolvimento e concordaram em criar metas e objetivos para mitigar a mudança do clima e gerenciar com mais equilíbrio o manejo da biodiversidade do planeta. Em 2002, a Cúpula Mundial pelo Desenvolvimento Sustentável, em Johanesburgo, resultou em um plano de implementação das metas não alcançadas até então. O mérito, nesse caso, foi o de estimular parcerias entre vários setores para, na década vindoura, fortalecer práticas de eficiência energética e o desenvolvimento tecnológico para a indústria.
Os temas que, desde já, despontam como preocupação da Rio+20 estão reunidos sob a marca da economia verde.“O verdadeiro debate é como tirar gente da pobreza em países em desenvolvimento e assegurar vida de classe media para muitos indivíduos emergentes, que querem consumir. Isso importa bem mais que assegurar recursos naturais para países ricos, motivo básico que levou os europeus a defenderem a criação de uma organização mundial do meio ambiente, que o Brasil contestou”, explica Lago, sobre o que considera ser o debate central da Rio+20.
Quem vem – Estima-se que o Aterro do Flamengo abrigará, no mínimo, 10 mil pessoas, do total de 50 mil inscritos. Já não existem mais quartos em hotéis disponíveis para o período da conferência. Com a mudança estratégica de data da Rio+20 para o fim de junho – a fim de evitar evasões por conta da celebração do Jubileu de Diamante da Rainha Elizabeth II ou por causa das eleições americanas - o governo brasileiro estima a vinda de 100 a 120 chefes de estado. A maioria certamente virá direto da reunião do G-20, que será finalizada no México um dia antes da cúpula dos Chefes do Estado na Rio+20.
Não é fácil envolver a opinião pública em debates relevantes para a forma de agir, pensar e consumir de 7 bilhões de indivíduos. Mas alguns dos dados que alarmam a comunidade científica são, em um mundo ameaçado por catástrofes ambientais e desconforto nas grandes cidades, um sinal de alerta para a forma como vivemos. Desde a ECO-92, o clima aqueceu acima do limite acordado em 2 graus positivos, podendo alcançar em pouco tempo os 3 graus, conforme difundido na COP-17 em Durban, em dezembro passado.
Na Rio+20, os temas serão debatidos por membros das delegações dos países e celebridades internacionais, a convite do Itamaraty. A repercussão do encontro, impulsionada tanto por líderes mundiais quanto por famosos engajados, é bem-vinda. Afinal, é esse um dos caminhos para levar discussões de ambientalistas ao cidadão comum, não necessariamente preocupado com termos como carbono, desenvolvimento sustentável ou biodiversidade. “Vinte anos depois, o entendimento do que venha a ser, de fato, a sustentabilidade e o desenvolvimento sustentável ainda é matéria de iniciados”, considera Fernando Lyrio da Silva, Assessor Extraordinário do Ministério do Meio Ambiente para a Rio+20.
Materia da Veja
Reedita por : Andréia Luna
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